Clube Somos Espectadores

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Clube Somos Espectadores

Clube Somos Espectadores
Ser espectador/a, acreditamos, é uma abertura permanente ao mundo, à curiosidade e à descoberta.

Gonçalo Frota

Em 2023, o Clube Somos Espectadores conta com o imprescindível apoio financeiro da Casa Fernando Pessoa e da Câmara Municipal de Lisboa, a quem aproveitamos para agradecer por estarem connosco.

No princípio era o Primeira Vez. Ou seja, um projecto desenhado e pensado para aproximar o público que ainda não o sabia ser, para levar até ao teatro pessoas que tanto se sentiam intimidadas pela majestosidade das salas, quanto se sentiam afastadas do seu lugar de espectadoras pelos trajectos de vida. O Primeira Vez tentava abrir portas, plantar o gosto e a curiosidade pelo teatro, procurava desfazer equívocos e estereótipos acerca da produção contemporânea, estabelecia pontes entre espectadores/as e artistas, ajudava a descodificar as temáticas das peças e a semear o pensamento entre aqueles que aceitavam embarcar nesta aventura. Mas o Primeira Vez era, de certa forma, um projecto armadilhado e, por outro lado, com uma continuação implícita: porque depois de despertar o apetite pelo teatro nos seus participantes, não podia deixá-los órfãos. Era uma primeira vez que se permitia o arrojo de imaginar que haveria vezes seguintes. Por isso era primeira e não única. E faltava garantir que esse desígnio não ficava nas mãos pouco fiáveis e escorregadias do acaso.

Assim nasceu o Clube Somos Espectadores, a partir dessa vontade de não parar, de não abandonar os/as espectadores/as no momento em que começavam a sentir-se parte das salas e integrados/as nas peças. Também porque a experiência do Primeira Vez confirmara o quanto assistir a um espectáculo pode, em larga medida, ser um espaço de socialização, de troca de ideias, de construção de uma comunidade informal que se junta para assistir a espectáculos, para neles mergulhar, para os debater, para os relacionar com as suas histórias de vida e, não menos importante, para estar com os outros. Um projecto para aprender a ouvir e a ser ouvido, para opinar em liberdade e segurança, para cada um/a se construir com os/as outros/as.

Por ter nascido do ventre do Primeira Vez, o Clube Somos Espectadores, dado à luz em 2021, teve por sala de partos o Teatro Nacional D. Maria II e, por destino inicial, o teatro. Mas, pouco a pouco, como qualquer filho que se vai fazendo autónomo e libertando dos ensinamentos e das asas dos pais, começou a crescer, estendendo-se quer para outras salas, quer para outras artes performativas, quer para outras linguagens fora dos palcos. Não abdicando de salas mais institucionais, como o D. Maria II ou o Teatro São Luiz, as romarias de espectadores começaram a parar também na discoteca Lux-Frágil (para assistir ao espectáculo-concerto Aquilo que Ouvíamos, do Teatro do Vestido), à Biblioteca de Marvila; e abriram-se ao cinema no São Jorge, à Orquestra Metropolitana de Lisboa no Museu dos Coches, à revista à portuguesa no Parque Mayer (com Vamos ao Parque), à dança dos encontros Bal Moderne na Culturgest ou às visitas guiadas no Museu de Lisboa e na Casa Fernando Pessoa.

Sempre de acordo com uma lógica de funcionamento simples, sem compromisso. Todos os meses é disponibilizada pelo menos uma sugestão (podem ser mais) de actividade a que os participantes podem aderir, consoante a sua disponibilidade e o seu interesse, mas sem carácter de obrigatoriedade. Quem quiser, junta-se ao grupo que assistirá a um espectáculo ou participará numa visita, com acesso ao preço reduzido negociado entre o Clube e as entidades parceiras. Depois, é só comparecer e desfrutar.

Ser espectador/a, acreditamos, é uma abertura permanente ao mundo, à curiosidade e à descoberta. E isso só se faz desafiando as certezas e os preconceitos de cada um/a, sendo confrontando com diferentes olhares artísticos e desenvolvendo o gosto através de um número crescente de experiências. Ser espectador/a no Clube Somos Espectadores é uma tentativa de ir além do “gosto / não gosto” a que se resumem tantas vezes as opiniões sobre os espectáculos, criando o lugar para que a discussão (mais ou menos participada, que aqui ninguém é obrigado a dizer aquilo que não quer ou a abrir a boca num dia em que só lhe apeteça dar ouvidos) e a partilha aconteçam.

Porque ser espectador/a não se esgota numa cadeira de teatro, numa observação passiva. Posicionarmo-nos sobre aquilo que vemos, numa sociedade cada vez mais treinada para a alienação e para o adormecimento do seu sentido crítico, revela-se de uma importância fundamental nos nossos dias. Aceitarmos ou rejeitarmos, identificarmo-nos ou distanciarmo-nos, sabermos ver-nos naquilo a que assistimos e não acharmos sempre que é sempre “sobre os outros”, faz tudo parte de um jogo enquanto espectador/a que treina o ouvido e os olhos para saber interpretar o discurso público em palcos menos artísticos e a perceber o quanto os mundos ficcionais e reais estão sempre separados por paredes muito, muito finas.

Não por acaso, a designação do Clube assume a primeira pessoa do plural. Porque entramos e saímos juntos das salas, trocamos ideias uns com os outros, construímo-nos em conjunto e criamos uma comunidade que não se desfaz após soarem os últimos aplausos. Olhamos para o mesmo sítio (mesmo se vemos coisas diferentes), descobrimos lado a lado, Somos Espectadores.

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